quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Algumas considerações sobre a crise parte II (Brasil)



 Artigo
 
Professor Luizinho Aguiar
Na primeira parte de minhas considerações a respeito da crise atual, falei um pouco sobre a crise estrutural, da qual é inevitável a um sistema que tem como a lógica o acúmulo de riqueza através do lucro. O Brasil que faz parte desse sistema internacional, não poderia ficar imune.
O contexto atual é turbulento. Dólar em alta, inflação, crise de energia, descontrole dos gastos públicos, corrupção, desemprego, má gestão da coisa pública que implica em dificuldades em promover políticas públicas em áreas essenciais como: saúde, educação, saneamento básico, salários compatíveis com o custo de vida, pouco investimento em obras públicas, por ai vai e tudo isso somado culmina inevitavelmente com a insatisfação popular. Mas quais as principais causas disso tudo mesmo? Para Roberto Bitencourt da Silva Doutor em História, professor da FAETERJ – Rio de Janeiro. Para ele a causa das causas são as perdas internacionais, a condição dependente do Brasil na cena mundial, trata-se, pois, da participação subordinada do país na divisão internacional do trabalho. Com o crescimento do consumo mundial de produtos primários, particularmente da China, a economia do país andou bem, para os padrões do capitalismo periférico, isso se percebeu claramente no governo Lula e Dilma que conseguiu compatibilizar diferentes interesses de classe com distribuição de rendas aos mais pobres, graças ao aquecimento da economia. De acordo com o professor, há mais ou menos um ano, o consumo internacional diminuiu consideravelmente, em particular o da China, isso fez com que a economia brasileira sentisse principalmente na viabilização das exportações.

É preciso compreender que embora o Brasil tenha uma indústria forte, o modelo primário-exportador é dominante. Segundo matéria de O Estado de São Paulo, praticamente 50% da pauta de exportações giram em torno de petróleo bruto, minério de férreo, soja, açúcar e café, isso somado a um parque industrial desnacionalizado, grupos fortes do comércio de varejo comandado por multinacionais, que dominam o mercado interno extraindo através da mais-valia dos trabalhadores brasileiros lucros exorbitantes e a maior parte deles não ficam no país, são transferidos grandes remessas para seus países de origem, comprometendo o crescimento de nosso país, acredito ser uma causa fundamental para explicar a crise econômica atual brasileira.
Porém, mister se faz ressaltar que o Brasil já viveu crises piores do que estamos enfrentando atualmente. Em 1932 a elite paulistana liderou uma revolta armada contra o governo provisório de Getúlio Vargas, ou no ano que antecedeu o golpe militar de 1964, quando tanto a direita quanto a esquerda defendiam uma “revolução”, neste momento da história estavam presentes, além da crise política e econômica, havia o rompimento institucional e convulsão social.
Sempre que há crise econômica e no capitalismo isso é cíclico, concomitantemente emerge a crise política. A atual não é tão grave como a que culminou no impeachment do presidente Fernando Collor, nem o revés econômico tão agudo como da época de desvalorização do real durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando o desemprego chegou a 19%. Porém, é bom ir devagar com a louça. Não é difícil constatar que estamos vivenciando as duas crises simultaneamente, e isso, pode trazer sérias consequências para o país. No impeachment de Collor, “o caçador de marajás” tinha base minguada no congresso nacional, com a força vinda das ruas, jovens (cara - pintadas) o impedimento foi inevitável. Hoje a situação não é a mesma, porém com a desaprovação da presidenta no bojo da operação lava-jato que surrupiou bilhões em propinas concedidos a parlamentares e a crise econômica que a cada dia pega mais força, a crise política vai se agigantando. Com base política em números bastante confortável, porém, na realidade das votações se mostrando precária. Com um presidente da Câmara acusado de receber propina de cinco milhões de dólares, rompido com o governo e o presidente do Senado dando uma de Pôncio Pilatos e muitos parlamentares da base aliada votando com a oposição, as coisas podem se encaminhar para um desfecho que não é bom para ninguém. Por outro lado, não deixa de ser positivo se percebermos que a independência das instituições na condução das investigações revela um amadurecimento democrático nunca visto na história do país.
No momento de crise é oportuno fazer uma reflexão a respeito como os seres humanos comportam - se. A crise é feita por homens e mulheres que tem as mesmas necessidades na vida, porém os interesses diferentes, os mais fortes economicamente e por consequência politicamente querem a todo custo, não importa o meio, de fazer prevalecer seus interesses, isso prova que vivemos em uma luta de classes, embora a grande maioria incauta da população não perceba.
Isso faz emergir as contradições latentes no interior da sociedade prejudicando o relacionamento social aumentando consideravelmente a violência que em nosso país já é alarmante. A saída existe, é só deixar prevalecer o bom senso, e nesse momento é imprescindível que os grandes homens, intelectuais que por força de suas culturas e vivências adquiriram maturidade e sensibilidade perante a realidade da vida, possam defender a cultura da paz, levantando suas vozes, bradando em busca de um entendimento nacional. A situação atual do país exige calma, reflexão, principalmente dos jovens estudantes, democratas, e todos aqueles que sonham em viver em um país democrático, a hora é de travessia no rio de grande ventania, precisamos dar forças para os comandantes para que eles não se percam e errem o caminho ou leve o navio, a naufragar.  A ruptura institucional, não é bom para ninguém, já experimentamos várias vezes e o resultado foi catastrófico, principalmente para os mais pobres. Cautela e caldo de galinha caipira não fazem mal a ninguém.

Maués, 03 de setembro de 2015.

Professor Luizinho Aguiar
O autor é Formado em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
E em Ciências Políticas pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA.

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