UM SACERDOTE NA POLÍTICA DE MAUÉS

Matéria do Jornal Amazonas em Tempo - Edição de domingo 05/08/2012

Padre Carlos



A foto de ilustração ´não é a mesma mostrada pelo jornal



Nascido em uma comunidade pobre localizada na área ribeirinha do município de Maués (a 365 quilômetros de Manaus), Raimundo Carlos Góes Pinheiro, 39, o “padre Carlos” causou grande reviravolta no cenário político da cidade ao anunciar que seria candidato a prefeito nestas eleições. Envolvido em causas sociais, o pároco titular da Igreja Nossa Senhora da Conceição e do Divino Espírito Santo entrou para a vida católica há 10 anos, e revelou, em entrevista ao EM TEMPO, que decidiu participar do pleito após perceber que a cidade estava abandonada, não por escassez de recursos ou verbas públicas, e sim por falta de vontade política.

EM TEMPO – Por que o senhor decidiu se candidatar? Essa é a primeira vez que entra em uma disputa eleitoral?

Padre Carlos – Sim, estou vivendo a primeira experiência de concorrer a uma disputa político-partidária. Decidi colocar meu nome no pleito porque percebi que o município onde nasci e me criei tem sofrido muito em todos os aspectos. A situação piorou ainda nos últimos 12 anos. Ruas estão destruídas, a educação está abandonada, não temos uma creche, além da carência na merenda escolar e o baixo salário dos professores. A saúde pública também é outro problema, principalmente na zona rural. Diante de todo esse quadro percebi que posso contribuir muito para mudar isso. Sou formado em filosofia e sociologia, fiz vários cursos de administração e quero usar as verbas públicas para melhorias. Percebi que meu nome foi muito bem-aceito. Sinto–me preparado para administrar Maués. Quero agregar pessoas e acabar com essa questão de grupos políticos. Tenho apoio inclusive do grupo evangélico. Estou muito feliz e sereno com esse momento.

EM TEMPO – Para colocar seu nome na disputa eleitoral foi preciso solicitar autorização da Igreja Católica?

PC – Sou padre coligado da Arquidiocese de Parintins e pedi autorização do bispo daquele município para o meu afastamento. A igreja autorizou de forma muita tranquila. Durante esse período eleitoral não estou realizando missas ou qualquer outra questão voltada à atividade de um padre, mas sou um cidadão comum, católico, que frequenta a missa e reza.

EM TEMPO – Como o senhor está captando recursos financeiros para a sua campanha?

PC – Estamos recorrendo aos partidos políticos aliados para fazer doações legais e também contamos com a colaboração de comerciantes e populares, que são simpatizantes da nossa campanha. Claro que ficamos apertados financeiramente, até porque para fazermos visitas às comunidades ribeirinhas precisamos montar uma logística, e isso custa caro. Deixamos de ir a alguns lugares por falta de recursos, mas vamos seguindo firme nesse propósito. A principal munição que temos é a nossa verdade, caráter e conversa.

EM TEMPO – Caso o senhor seja o escolhido das urnas, pretende aliar a vida de padre com a de prefeito?

PC – Não. Caso eu seja o escolhido do povo irei me dedicar à prefeitura, mas claro que serei sempre um servo da igreja, e pretendo continuar colaborando com a vida religiosa, não rezando missas ou como pároco, e sim dando apoio como cristão.

EM TEMPO – Quais as suas principais propostas políticas para cidade de Maués?

PC – Minha preocupação maior é a educação. O interior está sofrendo muito com falta de transporte escolar, merenda e baixa remuneração dos professores. Saúde também me preocupa, nossa proposta é criar um barco-hospital que passará metade do mês nas comunidades ribeirinhas fazendo atendimento, e isso irá desafogar os postos de atendimento na capital. A agricultura familiar também terá nosso acompanhamento. Resgatar o esporte será outra prioridade do meu mandato. Temos quadra de futebol que não funciona, deixando os jovens ociosos. O poder público parece não dar importância a isso. A cidade não tem uma rua sem buracos. Falta água frequentemente e o porto da cidade, que custou R$ 9 milhões, até agora não foi inaugurado. Pretendo mudar todo esse cenário, mas sonho com os pés no chão.

EM TEMPO – O senhor pretende alçar cargos políticos mais altos, como deputado estadual ou federal?

CG – Não, meu projeto é ficar aqui. Quero ajudar minha cidade. Deus me deu muita coisa e quero apenas contribuir com a minha terra, por isso meu lugar é aqui. Minha intenção não é seguir uma carreira pública, apenas organizar a cidade e preparar um sucessor para dar continuidade ao nosso trabalho.

EM TEMPO –

Padre é sempre visto como um ser humano honesto e de bom caráter, totalmente oposto à imagem que os políticos carregam. O senhor acredita que sua entrada na política possa “arranhar” essa boa imagem?

PC – Creio que não. Podem inventar alguns “arranhões”, mas tenho princípios e formações religiosas. Tenho pais e todo suporte familiar. Moro aqui na cidade e todos me conhecem. O poder nunca me subiu à cabeça. Sinto–me equilibrado. Meu objetivo é apenas servir bem o povo de Maués.

EM TEMPO – Semana passada, a Justiça decidiu manter sua candidatura após indeferir pedido de impugnação por uma chapa contrária que lhe acusava de irregularidades. O senhor está preparado para enfrentar essas situações na política?

PC – Até o final do pleito irei sofrer perseguições, mas acredito que estou maduro e preparado para enfrentar essas questões. Quando alguém ameaçando tirar o poder da oligarquia sempre surgem esses problemas, mas coloco a fé em Deus na frente. Tomo os meus cuidados e sigo com coragem e determinação.