Valeu, Barbosão!

Por Marcelo Ramos

“Viver é mais do que passar pela vida, como uma nuvem ou uma pedra. É ser no mundo, participar do mundo, enraizar-se no mundo. Viver é tomar partido. Tomar partido do bem, da beleza, da mudança. Tomar partido do outro, do chão em que acordamos para os mistérios do mundo. É tomar partido das florestas, dos pássaros e das águas. Viver é acreditar que é possível construir um mundo mais limpo e justo.” Pronto. Nas palavras de Tenório Telles está contada a história do Professor Barbosão.

Ele viveu!

Lembro o dia em que chegava ao meu escritório da Rua Barroso e passava aquele homem simples, caminhando só, puxando um carrinho de som de onde ouvíamos “40123, oh, oh, oh, vote Barbosão”. Num tempo em que políticos andam cercados de bajuladores e fogem das pessoas, Barbosão parecia o anticandidato, sempre só, de punhos cerrados, tocando a sua música e carregando o seu bonecão. Mas enganam-se os que viam nele uma figura folclórica. De sua forma ingênua, irreverente, com um quê de Quixote, era um homem lúcido, firme nos seus ideais e que caminhava a mostrar sua esperança na ética na política e na educação, marcas da sua luta. O bonecão poderia ser seu Sancho Pança, mas os gigantes e monstros imaginários do nosso Quixote eram bem reais.

Combatia a fome, a violência, a miséria, a falta de investimento na educação, os baixos salários dos professores, as campanhas milionárias, os falsos profetas da política, os que enriquecem nos mandatos. Barbosão passou a sua vida construindo caminhos de luz e de verdade.

Por onde passou com seu boneco e sua música plantou uma árvore de esperança. As crianças o adoravam, como só aos puros adoram. Plantou sementes em corações e deixou uma mensagem de quem vive de verdade. Na última sexta partiu o homem que tomou partido do bem, da beleza e da mudança, o homem que tomou partido dos seres humanos, o homem que teve coragem de ser bom. Tocou pela última vez “40123, oh, oh, oh, vote Barbosão”. Descanse em paz, companheiro. Honraremos a sua história.