segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Crise do Professor de Português e o que se espera desse profissional na atualidade

Por Dalmo da Silva Ribeiro, pós-graduando lato senso em Língua Portuguesa

A formação do professor de português: que língua vamos ensinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, de Paulo Coimbra Guedes é um fragmento excelente para as reflexões acerca da prática do professor de língua portuguesa. Relata com maestria, esmiuçando os diversos momentos da história da educação brasileira, a crise de identidade do professor de português. Sob a ótica histórica tem-se a possibilidade de ver, como, ao longo de décadas, a carreira do profissional de língua materna se sujeitou a tamanha pauperização pelas políticas educacionais equivocadas; por outro lado, Maria José Ferraz em Ensino da Língua Materna. Lisboa: Editora Coimbra, 2007, outro fragmento riquíssimo sobre o assunto, enfatiza, a grosso modo, uma abordagem mais positiva daquilo que é ser professor de português, lança as bases da nova tarefa para esse docente, porém, criticando as pedagogias permissivas e as assessorias pedagógicas, que no afã educacional, privatizaram o ensino da língua portuguesa padrão e deixaram de criar uma instituição que fizesse vigorar um ensino oficial de uma língua padrão a ser empregada nas escolas.

A crise de identidade do professor de português não deixa dúvidas de que a educação nacional caminha sem o fio de Ariadne*. No labirinto, fica difícil chegar aos problemas que envolvem a prática do docente de português. É esse fio que falta para o sistema educacional reconhecer nesse profissional, sua verdadeira função como operário da língua, como o responsável em levar aos estudantes, que há muito tempo perderam sua autoestima, aos processos interacionistas da língua. Muito se espera do professor de português, mas pouco se realiza sobre suas reais condições de trabalho, é ele quem primeiro pega a culpa quando a reprovação está sendo discutida e ele está sozinho, pois, como a história relata, foi somente através de decretos que pensaram numa nova estratégia de se trabalhar com língua portuguesa de uma outra forma, porém, nada mudou, continua o mesmo celeuma, de que alunos não aprendem português, porque os professores de português não têm capacidade e competência na área em que atua; por outro lado, se tem uma crise de identidade dos docentes de português, também cabe espaço para discutir uma nova identidade, ou melhor, uma nova tarefa para resgatar uma profissão tão vital para o desenvolvimento sociocultural e econômico do país.

Através do resgate do aluno ao ato de adquirir a autoestima e, de se opor contra toda e qualquer forma de opressão aos processos privatizantes da língua escrita e segregação escolar da população marginalizada que necessita dos serviços essenciais para uma formação digna, capaz de levar estudantes e sociedade a reconhecerem que o professor de português é tão importante como aquele que medica, que advoga, enfim. Desta forma, ambos os fragmentos corroboram em comum acordo no quesito crítica ácida e permanente ao sistema educacional, que sempre propuseram propostas falsas e metas que nem de longe, somos capazes de acreditar, ora o fato de elas serem utópicas e absurdas. No entanto, o autor e a autora passam-nos um texto importante para reflexões acerca do que é ser professor de português hodiernamente, porque a cada mudança de sociedade, o professor deve mudar com ela. Traz a contribuição necessária aos docentes de português para as novas fases que o mundo globalizado nos impõe.

* Na mitologia grega, Ariadne é a bela princesa que ajuda o herói Teseu a se guiar pelo labirinto, onde ele entra para matar o Minotauro, monstro devorador de gente. Para isso, Ariadne amarra a ponta de um novelo na entrada do labirinto e vai desenrolando-o à medida que ela e o herói penetram na emaranhada construção, Morto o Minotauro, ambos conseguem sair do labirinto enrolando o fio de volta.

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