PÃO

Por Marcelo Ramos

Merenda escolar é algo sagrado. Alimenta o corpo das nossas crianças, assim como a hóstia alimenta o espírito dos católicos, como eu. No campo religioso seria uma heresia absurda alguém roubar a hóstia, tanto quanto do ponto de vista humanitário é inaceitável o roubo de merenda escolar.

Hóstia é pão da vida. E é de pão que eu quero falar.

A SEDUC, através da CGL, realizou pregão para comprar nada menos que 1096 toneladas  - isso mesmo 1 milhão e 96 mil quilos - de pão. Sendo 400 mil quilos de pão de massa fina e 696 mil quilos de pão especial  (pão de jerimum, de batata doce, de macaxeira).

Considerado que cada quilo equivale a 20 pães de 50g, estamos falando aqui de 21 milhões e 920 mil pães, como aquele que você compra na padaria. A diferença – fora a quantidade absurda e a extravagância dos sabores -  é que na padaria você compra seu pãozinho por entre 3,50 e 6 reais o quilo, enquanto a SEDUC vai comprar os tais pães especiais por, em média, 9 reais o quilo, com alguns chegando a custar R$ 10,50. Não seria estranho se entre esses “pães especiais” tivesse pão de ouro ou pão de diamante.

Outra curiosidade  do fato é que você, pra comprar seu pãozinho, não vai à lavanderia ou à lan house, você vai à padaria ou ao supermercado. Pois é. Já o Governo do Estado/Seduc não comprará 1,1 milhão de quilos de pão nem na padaria e nem no supermercado.

Comprará da ARGANORTE, a mesma empresa que “ganhou” toda a merenda escolar da Prefeitura/Semed, com superfaturamento, conforme já decidiu o TCU em representação de minha autoria. Só que a ARGANORTE não produz pão e não vende pão, não tem um forno de cozinha sequer.

Com liberação das saúvas da merenda escolar por decisão da Justiça parece que os ratos – muito mais gulosos – sentiram-se livres para agir.

Aproveitando o apelo religioso do início do artigo e já cansado de reclamar e denunciar aos órgãos de controle, só me resta fazer um apelo ao Bispo Dom Luis. “Socorro, Dom Luis! Estão roubando a comida das nossas crianças”.