sábado, 12 de novembro de 2011

Invasão da Rocinha vai abalar maior empresa do crime organizado no Rio

Matéria extraída do Jornal o Estadão/Internet
Boca de fumo rentável nos anos 1980, favela se tornou nos últimos anos uma das grandes produtoras e vendedoras de drogas
12 de novembro de 2011 | 20h 45
Notícia
Pedro Dantas - O Estado de S. Paulo
Tasso Marcelo/AE

Nem chegava a oferecer R$ 200 por semana a jovens para embalar maconha e cocaínaA ocupação e pacificação da favela de São Conrado, na zona sul carioca, vai abalar uma verdadeira empresa do crime organizado. Com negócios diversificados, bons salários e faturamento semanal de R$ 2 milhões, a "Rocinha S/A" já era uma das bocas de fumo mais rentáveis do Rio desde a década de 1980. Mas a partir de 2007 viu suas transações se multiplicarem.

Rocinha com data e hora marcada para ocupação

A virada começou um ano antes, bem longe dali, em algum barraco na Favela das Malvinas, em Macaé, no litoral norte do Rio, onde Rogério Mosqueira Rios, o Roupinol, aprendeu a refinar cocaína. Só em 2006 ele faturou R$ 1 milhão. Em 2007, após ter a refinaria estourada, refugiou-se no Morro do São Carlos, na zona norte carioca, dominada pela facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), a mesma que controlava a Rocinha.

No São Carlos, a técnica de Roupinol encantou os chefões, que logo o enviaram para a Rocinha. Sua missão era turbinar os ganhos na "joia da coroa" do tráfico. Em agosto de 2007, a polícia estourou a primeira refinaria na Rocinha e prendeu Leonardo Assunção, de 27 anos, o Português ou Químico, um dos responsáveis pela produção. Era tarde. Naquele momento, a Rocinha já contava no mínimo com três outras refinarias em funcionamento nas localidades da Cachopa, do Terreirão e na Rua 2, conforme denúncias feitas pelo Ministério Público em novembro do ano passado.

R$ 45 por cabeça
Com o faturamento da Rocinha, o chefe do tráfico local, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, dispunha de dinheiro para resolver o aspecto mais complexo do refino: a compra de produtos controlados, como ácido sulfúrico, ácido clorídrico, éter, álcool PA e acetona. Entre 2007 e 2009, Nem gastava quase R$ 10 mil cada vez que precisava adquirir os produtos controlados. Ele pagava R$ 45 para 213 moradores, arregimentados nos locais mais pobres da favela, comprarem 2 litros de produtos controlados cada, de acordo com o MP.

O pagamento de bons salários, aliás, é característica do tráfico da Rocinha. Enquanto em outras favelas os jovens ganham no máximo R$ 50 por semana para embalar maconha e cocaína, a Rocinha paga R$ 200 aos "endoladores", geralmente homens desempregados arregimentados por Renato Sabino Gonçalves, o Pará, conforme consta em inquérito da 15.ª DP (Gávea). Na refinaria, os salários são mais altos e chegavam a R$ 1.500 por semana para as 15 pessoas, cuja produção por quinzena poderia render 250 quilos de cocaína.
Contra-ataque
O superintendente da Polícia Federal, Valmir Lemos, e o comandante do Estado Maior da PM do Rio, coronel Alberto Pinheiro Neto, afirmam que a ocupação só foi possível após a quebra da conexão entre Rocinha e Macaé. "A ocupação da Rocinha começou há dez dias em Macaé, com uma operação do Bope", afirmou.

Na ocasião, três homens foram mortos na Favela das Malvinas, no dia do aniversário de Sandro Luís de Paula Amorim, o Foca ou Peixe, que foi preso nesta semana quando deixava a Rocinha sob escolta de policiais corruptos. Ele era o sucessor de Roupinol, morto no ano passado. "A droga produzida na Rocinha era vendida com exclusividade em Macaé. A conexão entre as duas quadrilhas sempre foi muito lucrativa", explicou o superintendente da PF.

Além da droga, dentro do território inexpugnável para a polícia, o tráfico cobrava pedágio de dois prostíbulos onde policiais já receberam denúncia de exploração sexual de adolescentes, uma clínica de aborto, agências de turismo, além dos inúmeros mototáxis e vans autorizados a circular pela favela.

Rave
Recentemente, o tráfico da Rocinha inovou novamente e passou a arregimentar jovens para vender ecstasy em festas rave e boates da cidade. Um desses jovens, preso em julho deste ano com 1.250 comprimidos de ecstasy, recebia as encomendas pelo site de relacionamentos Facebook. Ele nega as acusações e responde ao processo em liberdade. A página eletrônica foi retirada do ar pelo site.

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