quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Os Retratos da Educação Rural de Maués.

Magister dixit: Docere cum delectare

Tomo a liberdade, mais uma vez, de expressar uma visão opiniática sobre a Educação do município. Só que agora, as impressões se voltam para a Educação no Campo, aquela administrada na zona rural e que, muito pouco sabemos a seu respeito. Aliás, sua implantação e aplicação se fazem necessárias para o progresso das populações que habitam os campos e as calhas dos nossos principais rios. Serei lacônico. Em Maués, infelizmente, o governo executivo e legislativo não pensam, em pelo menos, dar uma Educação Saudável ao alunato rural, muito menos de bom nível, é óbvio. Pude constatar essa triste realidade, quando visitei uma comunidade do Rio Parauari. Lá não havia sequer uma biblioteca, os precários livros que vi, em uma pequena banca rústica, estavam todos em estado de precariedade, riscados, impróprio para o uso adequado em sala de aula. Tive a oportunidade de folhear apenas um, os conteúdos não condiziam àquela realidade. Não podemos educar um povo fora de sua própria cultura e realidade, é mergulhando na nossa própria alma que descobriremos nossa razão de ser e de existir. Sem escola rural adequada, o baixo nível dos alunos é patente, quase grotesco, isso reflete muito bem a dificuldade que muitos têm em saber interpretar um texto, principalmente fora do contexto escolar de sua localidade. O correto seria destinar um emaranhado da literatura amazônica para esses alunos. Uma espécie de folclore que expresse o símbolo de sua condição social para compreender o seu próprio lugar e tudo o que nele existe. Um livro que fala de neve, não tem nenhum valor, quando ao redor de crianças sábias existem dois momentos exuberantes da natureza: o faunístico e o florístico e isso é pouco explorado em sala de aula. Pedi para que um deles lesse um parágrafo, mal conseguia ler, dada a dificuldade que eles têm quanto ao hábito da leitura. Sua escrita não passa de uma ou duas linhas, a qualidade da escrita é discutível e irregular. Os alunos demoram a ler, renovam a leitura. A isso podemos chamar de mutilação do lado intelectual de nossas crianças rurais. A valorização dos profissionais da Educação e da própria Educação seria o primeiro passo para um a longa caminhada, isso devolveria a dignidade a esses Magister e às crianças do campo para conquistarem sua emancipação na sociedade. Toda criança deve estar alfabetizada plenamente ao final da 2ª série ou 3º ano do ensino fundamental, mas o que se nota é um atraso ideológico no ensino das crianças rurais. Segundo o IBGE, a avaliação do desempenho dos alunos dos ensinos público e privado mostrou a realidade da Educação Brasileira: 44% não conseguem ler e 57% não sabem somar ou diminuir. Isso é uma tragédia. Os dados mostram a tristeza em que está nossa educação. Em Maués, a educação rural é a que mais padece, ela envia para a cidade um corpo humano mal preparado para o mercado de trabalho, para a vida e para as relações saudáveis em sociedade. Cria na verdade, toda a truculência e os contrastes sociais dos chamados bolsões de miséria. A Secretaria de Educação não deve estar (pre) ocupada com colossos simpósios Brasil a fora, deve sim de fato estar imbuída no pensamento de como deve funcionar a Educação que alfabetizará as crianças da zona rural. Na chamada de esclarecimento no que tange à Educação Municipal, o secretário de educação deve estar formatando e preparando amostras de dados educacionais de sua gestão, contudo, isso poderia ser levado a cabo sendo mostrados no seio da sociedade, em praça pública, mostrar o atual estado em que se encontra a Educação Rural, seus índices e tudo que a ela estiver relacionado, não na Câmara, como pretendem os parlamentares que se confinam em prédios públicos. Foi a zona rural que produziu a maior parte de nossos pensadores e intelectuais. Isso há bastantes décadas. Não sei com precisão quais foram os grã-intelectuais que de lá vieram, seria necessária uma pesquisa mais aprofundada acerca do assunto, entretanto, quem conhece a História da Educação de Maués saberá medir com precisão o objetivo desta assertiva. Todas as nossas raízes são oriundas do meio rural, quer seja do Rio Maués-Miri, do Rio Apocuitaua, do Rio Parauari, do Rio Maués-Açu, do Rio Amana, enfim, exceto os imigrantes e migrantes que aqui aportaram, no entanto, seus filhos de certa o são. Ora, isso mostra que fomos educados com os princípios que a natureza nos legou, i.é, a nossa primeira educação começou no meio rural e só depois passamos a receber a educação escolar na cidade, associada à educação moral adquirida no lar. Portanto, urge que se olhe com mais interesse para a educação do meio rural. Foi ela que nos trouxe o legado de Terra do Guaraná, foi nela que aprendemos as primeiras letras e é para ela que este artigo faz jus. A zona interiorana é o nosso Berço-Mãe, é um santuário de nossos bons costumes, de valores familiares a serem seguidos, de bens éticos e morais, de vida maviosa, enfim, de tudo que se tem de mais prazeroso que se possa extrair dessas localidades tão esquecidas e desamparadas por nossas infames autoriudades. Assim sendo, a priori o artigo preocupa-se com o presente das crianças que habitam as margens dos rios, os centros das matas, os meandros dos igarapés, com a nobre intenção de chamar a atenção não apenas dos administradores das verbas, como também dos técnicos e “profissionais da educação”que parem de consagrar dados falseados da educação rural, dizendo que está tudo bem, tudo ótimo, perfeito e passem a flexibilizar, com urgência, uma educação justamente social para as crianças rurais com dignidade, respeito e zelo, sem no entanto romanceá-la, pois, sem esse braço positivo do pilar social é que vamos estar completamente perdidos no espaço e no tempo.

Por Dalmo Ribeiro, graduado em Letras, núcleo Maués.
Manaus, 03 de setembro de 2011. 16h49min PM.

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