quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O ENTERRO DE UMA PEDRA

Por Aldemir Bentes*

Pou! Pou! Pou, fogos explodem no ar, a pobre senhora que tentava dormir aproveitando a trégua do calor, teve que interromper por causa do barulho ensurdecedor. Atordoados, os moradores tentavam entender o que estava acontecendo. Será o final da Copa do Mundo? Não, a copa só será em 2014. Será as meninas do vôlei? Não, pois o torneio ainda não terminou. O que será? Atônitos, os moradores aos poucos foram se chegando para o lugar de onde os fogos explodiam. Uns a pé, outros de bicicleta e poucos, muito pouco, de carro e moto.
Desconfiados, os olhares se entreolhavam, e através destes, se perguntavam, uns dos outros, sem usar palavras, apenas gestos e expressões visuais, o que estava acontecendo. Uns mais afoitos, juravam que tinham achado uma imagem milagrosa, tão milagrosa que até o prefeito estava presente. Então a coisa é séria, comentavam outros, pois em plena quarta-feira, de dia nublado o “ome” está presente, só podia ser mesmo uma coisa muito importante. Se não fosse, ele não estaria aqui, comentavam entre si, os moradores. Ele só chega na sexta e volta no domingo e mesmo quando ele chega, vai direto para o interior entregar motor de Luz e barracão de farinha e guaraná, é o que o rádio anuncia, até coloca gravação de gente falando.
Pois é, a multidão curiosa foi se chegando, chegando, todos queriam saber o motivo de tanto barulho.
Ao se aproximarem, de onde seus olhos podiam ver, identificaram a presença DELE, em carne e osso. Pelo seu tamanho, sumia no meio da cerca construída de corpos humanos. Como um deus, era protegido e ovacionado por seus súditos. As palavras de ordem não paravam, bajulação, bajulação explícita, vista a olhos vivos, sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha. Que vergonha? Deixa pra lá.
Pois bem, depois de alguns minutos indagando, se espremendo no meio do povo, os moradores curiosos souberam que naquele momento, estava ocorrendo o ENTERRO de uma PEDRA. Uma pedra? Se perguntavam admirados! Uma pedra! Afirmavam! Mas que tanto valor terá essa pedra? Continuavam alguns moradores, não entendendo o motivo de tanta festa para o enterro de uma simples pedra.
Se isso não bastasse, no enterro da pedra, muitas autoridades estavam presentes e todos discursaram, como se naquele momento, o mundo tivesse alcançado o fim da pobreza, da miséria, da fome, da corrupção. A festa era enorme, e como era.
Seu Manduca, morador do lugar, cuja casa que ganhou depois de esperar por 06 anos, reclamou de tamanha festa pelo enterro da pedra, pois sua casa, toda vez que chove, é um deus nos acuda, ela ALAGA e até hoje, ninguém dos “omes” resolveram o problema.
Depois do cerimonial, homens, senhoras, crianças, jovens e velhos voltaram para suas casas sem entenderem de fato o motivo de tanta festa para o enterro de uma Pedra.
Só mesmo em Maués, onde as obras aniversariam antes de serem concluídas, onde outras ficam estáticas no meio da construção e outras até que se concluem, mas com inoperância, sem muita serventia para o povo, tudo era possível, daí as pessoas aceitarem e acharem “até normal” se gastar dinheiro público para enterrar uma pedra. Será que ela florescerá?

*Aldemir Bentes é filho de Maués, Mora em Maués, formado no Curso de Letras pela UEA de Maués, administra o Blog do Aldemir de Maués. Maués, terça-feira, 24/08/2011 – 21:46.

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